domingo, 22 de março de 2015

cancioneira

Olha, seu moço, não se envaideça, que eu canto mais de mim do que de você. Conto mais o nós do que só um, porque um não pôde ser. O amor que eu senti quando eu estava com você, mais que o amor com você, o amor que eu senti quando longe de você. Uma pena, seu Moço, longe de você era o que eu mais tinha. Canto o amor que imaginei um dia poder viver junto de você, se juntos. Canto a possibilidade de você, e da possibilidade eu percebi o que era, na verdade, ocê.

Eu me pego te olhando, guardando seus traços, como se numa caixinha onde irei te buscar quando você me faltar. Fico aqui te olhando, no intervalo entre o até logo e o abraço, em que te aperto toda, trocando palavras que dão forma ao amor.

seu aniversário

Antes mesmo de tomarmos consciência de nossa existência, colocaram-nos nesta esteira, que nos leva a seu ritmo, ainda que nos reste a dúvida se o tempo é por si mesmo ou por nós. E essa esteira passa, ainda que desejemos agarrar um momento ou pular uma etapa. Ela segue. Este ritmo nos descompassa, como quem tonteia: ou os pés - na esteira - estão na frente da cabeça ou é ela que está voltada pra frente,buscando equilíbrio, como se tentasse antever, para se preparar, para não ficar bambeando todo o trajeto. Dessa esteira não se sabe quando ela vai parar. E seguimos assim, cientes do caminho que já passou, levados a viver o presente - pés na esteira- nosso único espaço de ação, e de ilusória autonomia, e obrigados a olhar para frente, ainda que não vejamos o futuro senão pela imaginação. Amanhã é seu aniversário. Mais uma etapa temporal se encerra e se inicia. Que você sinta-se ainda mais feliz.

terça-feira, 17 de março de 2015

Da varanda

A casa já veio com as janelas determinadas. Junto a você, as emolduramos com bastão e cortina. A Mantiqueira ali estava para quem a quisesse olhar. Confortável visão costumeira, nos guardava no mesmo cadinho, nos aconchegava no Vale com a Serra do Mar. A partir da janela, o horizonte guardava você. Te sentia ali comigo, no mesmo cadinho, aconchegados no Vale com a Serra do Mar. Veio o dia que a distância pulou a Serra, que agora me lembrava que você estava longe. O longe que só seria vencido com o pensamento. "Quero compartilhar tudo de bonito que contemplo com você". Assim, de todas as coisas, passou-se para o essencial. Daí então ficamos perto. Das palavras se faz meu abraço.