segunda-feira, 27 de abril de 2009

...

Pressa tenho de parar o tempo
Sentir o tempo passar, minuto a minuto
Desejo ansear por cada dia e não por um dia tal
Que não vem
Demora a chegar

E quando chega some
Vai dentre os dedos
Os dias voam

O calendário apressado
Por desejar que o dia acabe logo
Venha outro, tão chato quanto

E faz desejar que passe
Logo
Para outro dia vir

Quem dera ter você em meus dias
Eu pediria pro dia passar devagar
Teria quem levar comigo pra lugares mil
Os que desejo ir
E mostrar como eu gosto aproveitar o dia

Dividir o que vejo

"Ah!, se eu pudesse, no fim do caminho
Achar nosso barquinho e levá-lo ao mar
Ah!, se eu pudesse tanta poesia
Ah!, se eu pudesse, sempre, aquele dia"
Tom Jobim

sábado, 25 de abril de 2009

Cotidiano

Olho o relógio, estou atrasada
A manhã voara e nem senti passar
Tanto a fazer, não daria tempo pra nada

Torço para que logo passe um ônibus
Que não demore o mesmo tempo que sair dali a pé
Não daria tempo, tanto pra fazer
O dia poderia ter mais umas horinhas

O senhorzinho de sempre, ali sentado, descompromissado
Com jeito de quem sentou ali pra papear, como todos os dias
Pergunta-me que horas eram
"Já são 11 horas"- respondo

O senhorzinho de cabelos brancos
Naquela maneira própria de falar
Comenta
"Ainda são 11 horas.
O tempo demora a passar pra quem já tem
todo o tempo do mundo"


"Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar..."

Raul Seixas

Lá fora

Folha fica no alto
Presa a quem pertence
Vê vistas lindas!
Folha seca, cai.
Folha, solta, vai onde o vento leva.

Pena bela vive no alto
Presa às asas de quem pertence
Vê vistas lindas!
Pena cai
Solta, vai onde o vento leva.


Lagarta fica no baixo
No pouco, superfície
Pouco vê
Depois do casulo vira borboleta
Borboleta solta zomba do vento
Vai onde agrada, pousa onde quer
Breve e desprendida. Voa.
É de suas vontades.

"Olha quanta beleza,
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção.
Sou eu o poeta quem diz:
Vai e canta, meu irmão,
Ser feliz é viver morto de paixão. "

Toquinho e Vinícius

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Roda-Roda

Dias que aproveito de véspera
Saboreio as possibilidades
Cada uma delas
Delicio-me dos possíveis gestos, jeitos
Temperados de elementos surpresa
que escapam-me ao filme
que projeto aos poucos

O dia vem e desconstrói o filme
Sopra o castelo de cartas
E faz-se do seu jeito
Interfiro pouco
Pouco do que posso

Tenho sempre dias em pares
Os que eu penso e os que são
O desejado e o feito
O meu e o nosso

"Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração..."

Chico Buarque

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Contrários

... E está assim.
Nenhuma música diz o que procuro ouvir
Nenhum poeta fingiu senti-lo.
É como se ninguém compartilhasse do que sinto
Um peso só meu.

E quando todas essas pequenas coisas se juntam
Tão contrárias
Um todo disforme
E nesses choques formam um nada
Anulam-se
Esse vazio cheio

"Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada não
"

Toquinho e Vinícius

quarta-feira, 15 de abril de 2009

...E que interprete como quiser
Que as entrelinhas encham de significados
Tome pra si as palavras
Tome pra si a culpa
desses versos
...dos gestos

Sinta, vai.
Imagine que é pra você
Nenhum sentimento é sozinho
Nem só passivo
Nem só reação

E tento sentir em tudo que posso
No cheiro, na foto, nos rastros
Seus passos
E tudo me faz lembrar
Mas tento esquecer
Negação contínua de você
...e mesmo assim me faz sofrer.

dolorido do mesmo jeito

21/02/09

"Tenho um coração
Dividido entre a esperança e a razão
Tenho um coração
Bem melhor que não tivera
Esse coração não consegue se conter ao ouvir tua voz [...]
Quem dera ser um peixe
Para em seu límpido aquário mergulhar"
Fagner


Música de minha infância
Cantada por minha avó pra mim

terça-feira, 14 de abril de 2009

(Re)Começo

Vontades
Nunca sei de onde elas vêm
Ou pelo menos identificar um fator decisivo para tal despertar.

Eu tenho vontade de dizer o que passa na minha cabeça. Arrumar alguma maneira de materializar o que sinto. Compartilhar.
Talvez porque pese demais ficar guardando tudo dentro de mim.

Antes eu escrevia. Publicava num blog em meus 16 anos. Mas parei.
Comecei a pensar demais no ato de escrever, publicar.
Por que eu o fazia, e reparar no porquê dos outros.

Alguns pareciam-me escrever pra receber elogios. Cobravam a presença no blog, a leitura e comentário. Cobrar atualizações.
Isso eu não gostava. Parecia ter-se tornado obrigação. Auto promoção de alguns.
Nem sempre era preciso comentar, era apenas entendimento - pra mim.

Então parei. De escrever. De pintar. Desenhar.
Deixei de lado justamente tudo que mais gosto.
Passei a escrever só pra mim. Guardar pra ninguém ler, ou ler depois, num acaso / acidente.
Na maioria das vezes penso. E só penso. Crônicas pra mim. Sem materializar-se.
E que se perdem...n'algum lugar por aqui dentro.

Agora a vontade voltou. Sei lá o porquê. Veio.
Como alguém que saiu sozinho de viagem e que voltou pro seu lugar de origem.
Pelo menos lugar físico. O Porto seguro para se voltar, e não viver.
Cheia de coisas pra contar. Contar o que viu, sentiu.
Agora que tomou distância e consegue ver o que passou.

Sem ter alguém pra contar, alguém em especial pra ouvir, jogo as folhas ao vento pra qualquer um ler.
Quem sabe o vento leve as folhas pra quem as queira.
E assim (re)começo.
Parece ser essa minha sina: Ter um "Re" como prefixo em tudo.

Renata Ramos
14/04/09

"...
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar de um mundo tão distante..."

Roberto Carlos

Música de minha infância
Cantada por minha avó pra mim