sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sabotagem

Cuidadosamente, ela tratou de minar todo o seu espaço
- ainda que irrefletida, inconsciente-
preparou o campo para que os pés desavisados a machucassem
- "olhe só a dor que me causou"!
E o afastar-se tão temido tornara-se real, palpável,
sem o terror da fantasia.
Ele se afastou.
Deixou de ser temor para ser concreto,
campo conhecido, confortável ainda que dolorido.
O junto era novidade-
a troca, o ceder, o expandir-se,
novo e assustador.
Como lidar com a promessa de eternidade?
Antes o conhecido fim a esse desafio.

ao vento

Eram tantas as certezas que ela trazia
anotadas no bloco de papel -frágil, à mercê de um apagão-
que bastou a rasteira, seguida do tropeção, para rasurá-las.
Por vivida, a rigidez do certo ficou no passado,
É que a vida nos torna maleável,
por cadência ou pancada.

Do crime que condenara foi ré, reincidente,
decadente,
de encontro a sua humanidade,
da erracidade,
para perceber que à ferro e fogo condena quem não viveu,
ou o hipócrita;
quem não provou o fel do vacilo e do
arrependimento punitivo.

Provou da lágrima que não esvazia o peito,
cujos soluços querem expulsar a dor
-resistente- como se quisesse ensinar paciência.
Descobriu que a espera é por vezes involuntária;
não se condiciona pela decisão, mas por ...
intimamente,
desejar o retorno daquilo que nunca quis partir.

domingo, 16 de novembro de 2014

tarde de domingo II

A menina olhou para o céu,
limitado pelos galhos repleto de flores brancas de Jaboticaba,
mas não eram os mesmos ramos de outrora,
nem o mesmo céu...
Os conselhos dele ecoavam na memória...
porque não era mais presente.
Ela emprestou o ar num suspiro
que não preencheu o vazio.
Lembrou de um amigo distante que a aconselhou
criar vazio,
(ou seria espaço?)
para a novidade chegar.